quinta-feira, 14 de maio de 2009

Os três primeiros parágrafos não passam de uma introdução.

O meu livro de mesa-de-cabeceira é "O Erro de Descartes" (A. Damásio), portanto, antes de adormecer, tenho passado os olhos pelo "Boca do Inferno" (R. Araújo Pereira).



O quê? Não perceberam a relação? Passo a explicar: para começar, deixo o pc na sala, quando me deito, para resistir à tentação de ficar a ver episódios dos f.r.i.e.n.d.s, em vez de me cultivar com o livro do Damásio; e é aí que eu olho para o tal do livro, que contém, juro-vos, material do maior interesse para mim e que até estou curiosíssima para explorar!; está ali mesmo, em cima da mesa-de-cabeceira, também ele me olhando; depois desta profunda contemplação, e para não contrariar a minha natureza anti-cultura (cf. Uma vergonha), pego no "Boca do Inferno" (que, aliás, já habita, também, a minha mesa-de-cabeceira, à força de tantas visitas que lhe ia fazendo) e digo ao meu gato, deitado ao fundo da cama, que me observa com ar reprovador: "É só um capitulozinho!" - e os capítulos, naquele livro, são bem pequenitos, assim mais ou menos do tamanho de uma crónica de revista, por exemplo.

Milhares de capítulos depois, adormeço de luz acesa, boca aberca e a típica da baba a escorrer por entre as páginas das quais não fora capaz de me despedir para mais uma noite.

Isto tudo, para vos contar o quê? Que - e é com pesar que o afirmo - não terei, jamais, a lata do R.A.P. para mandar piadolas jocosas sobre notícias sérias, na nossa rúbrica "Momento cultural do dia" (cujo, hoje, é este - pura poesia!), como é o caso das que se seguem:

Peter Bryan, um inglês de 34 anos que foi apanhado pela polícia na altura em que se preparava para fritar e comer o cérebro de um amigo de 43, foi condenado a prisão perpétua. Até quandodurará este preconceito contra o canibalismo? Quem nunca olhou para um colega de trabalho e pensou para si: "A coxa do Gonçalves, no forno com batatinhas a murro, dava um petisco bem gostoso"? (Atenção: isto era um teste. O canibalismo é doentio. Se, de facto, é dado a este tipo de pensamentos, consulte um médico. Se, por outro lado, é dado a este tipo de pensamentos e já tem a perna do Gonçalves numa travessa pronta a ir ao forno, nesse caso consulte o Pantagruel. Veja como um raminho de alecrim pode dar um toque de requinte aos seus pratos de carne assada.) (...) Repugnante, o canibalismo? Eu diria saudável: Bryan estava a cozinhar o cérebro do amigo. Sempre ouvi dizer que a mioleira faz bem. (...) Peter Bryan (...) está em condições de garantir que o cérebro que se preparava para comer estava bom, uma vez que o viu a funcionar (...) Não há cérebro mais fresco do que aquele que, escassos minutos antes de ser cozinhado, manda o seu dono perguntar: "Porque é que estás a olhar para mim com esse serrote na mão, Peter?" (pp. 221 e 222)

Há dias presenciei o mais recente tipo de acidente nas estradas portuguesas. De início, parece igual aos outros: um carro parado, gritos, sangue por todo o lado. Quantas pessoas morreram? Nenhuma. Nasceram duas. A senhora estava grávida de gémeos. Segundo parece, Portugal lidera, actualmente, dois importantes índices rodoviários: o índice de mortalidade na estrada e o índice de natalidade na estrada. (p. 233)

Quando muito, poderei dizer uma ou outra gracinha do género:

Tenho acompanhado com muito interesse a crise no BCP. Não tenho percebido nada. (p. 231) - A graça está, obviamente, na primeira frase. A segunda corresponde à mais pura das verdades.

Aproveito para esclarecer que as páginas são muito próximas entre si porque todos os excertos foram lidos ontem (além de inculta, tenho uma péssima memória, pelo que já não me lembro dos assuntos abordados noutros capítulos e, como a preguiça é outra das minhas admiráveis virtudes cognitivas, não estive para reler nem a primeira frase de outras partes do livro... mas estou a justificar-me porquê?! Já muita sorte têm vocês em vos ter transcrito o parlapiê todo, pois bem poderia ter remetido simplesmente para a página e linhas dos excertos, e quem estivesse interessado, que consultasse o livro directamente - finalmente, percebo como sou tão burra! Provavelmente, demorei a perceber isso precisamente devido à falta de inteligência... O meu QI vai diminuindo à medida que escrevo esta posta...).

Bom, enfim, concluindo: já sabem o que esperar do nosso momento cultural: meio desprovido de interesse e tal... Olhem! Dediquem-se à leitura do "Boca do Inferno". As notícias já são um bocadinho desactualizadas, mas... queremos lá saber! Como se lêssemos essas páginas por causa das notícias...!!!

4 comentários:

Alexandra disse...

Já dei uma vistinha de olhos por esse livro e fiquei com imensa curiosidade. Tenho de ver se o arranjo. Adoro o sentido de humor do R.A.P. :)

P.S. Ali em baixo, não devia ser 'elas adoram-nos'? é que somos duas :) brincadeirinha..

A mais velha disse...

pois é, Alexandra, o teu PS faz todo o sentido, e estávamos a ver se ninguém reparava, mas apanhaste-nos...

como pudeste constatar, é o desespero a mendigar mais seguidores, incluindo do sexo masculino... :p

mas, agora que fomos "caught in the act", se, até ao fim de domingo, só tivermos fêmeas no nosso clube de fãs, pronto, 'tá bem, assumimo-nos como "loosers" e substituímos aquele segundo "e" por "a". E, para além disso, deixo de dizer palavras ou expressões em inglês no meio de frases em português.

A mais nova disse...

mais velha, tu perturbas-me! "nós temos bueda emoções bueda de pressa man"! RAP não é o que se põe nas lápides? :s

A mais nova disse...

nao, é RIP...