quarta-feira, 2 de março de 2011

O sol veio e, com ele, a escrita

DoisdeMarçodedoismileonze
'Prá semana é carnaval, o que significa que me posso dar ao luxo de vir passear para a ribeira sem ficar com peso na consciência por não estar a estudar.
Este deve ser o melhor sítio do Porto.
Nos muitos bancos que se distribuem pela marginal descansam pessoas das mais variadas faixas etárias e etnias: casais caucasianos muito certamente recém-casados, mimando o filho há poucos anos nascido; velhos de cajado e chapéu - verdadeiros guardadores de rebanhos - que não resistem a uma soneca; grupos de jovens histéricas (tem de haver sempre algum) que trocam impressões sobre vidas que, quase de certeza, não são as delas. Eu vim sentar-me num banco onde já estava uma senhora, coberta com um lenço e casaco branco, que lê um livro de capa branca. Ao dar-me uma espreitadela de soslaio, há bocado, reparei que, contudo, usa vermelho carregado nos lábios.
Algures atrás de mim (ou postero-lateralmente, professora Dulce) uma mulher de azul convida todos quantos passam para um almoço "Quer mesa?" " Gostaria de almoçar?" A única pessoa que lhe deu bola até agora, no entanto, foi um turista perdido a pedir indicações.
À minha frente estende-se o Douro que, na verdade, só oira na zona onde reflecte o sol, o restante apresenta uma cor azul-sujo pouco convidativa.
Das pessoas que passam encontro de tudo: snobs engravatados e encharutados; ciganos vendedores de óculos, relógios e outra mercadoria roubada e/ou falsificada; ingleses, noruegueses, holandeses e outros eses que mostram a nacionalidade logo na cor da pele e, os mais novos, na cor da bandeira na t-shirt; e, claro, ou não estivessemos nós numa cidade universitária, uma ou outra pessoa trajada (quase sempre uma e outra, que isto de gente trajada gosta de andar aos molhos).
Desta vez não me importava que me viessem falar, ainda que esteja a usar os mesmos óculos da última vez. Nem que fosse para dizer "sorry, i don't know, i'm not from here", que seria provavelmente a minha resposta, a não ser que me perguntassem como ir para Gaia.
Há um novo teleférico, que vai de uma ponta à outra de Gaia passando, somehow, um pouco sobre o rio. Se calhar não é assim tão novo, eu é que já não venho ver as gentes cá em baixo há muito tempo.
Taylors, Calem, Ramos Pinto, Sandeman... Ajudem-me seus bebados, que bem sei que têm na ponta da língua o nome de mais marcas de vinho do Porto. Daqui, caves que estão viradas para o rio, conto estas, mas há mais, a minha miopia é que não ajuda...
Alguém canta numa voz muito tremida e numa língua muito pouco portuguesa. E assim me embalo neste que é, sem dúvida, o melhor sítio do Porto.

1 comentário:

mo disse...

Gostei e lembrei-me que também já sinto falta de escrever algo, mesmo que nada de importante ;)