segunda-feira, 27 de abril de 2009

Livros de volta à prateleira III

"Tudo o que temos cá dentro", Daniel Sampaio

Demorei que me fartei a ler esta minusculinidade...
Ok, o facto de ter tido mais que fazer, ter tido os friends na mesa de cabeceira e ler uma meia página por noite é capaz de ter contribuído...

Mas a deprimência da coisa também ajudou muito! (e se, como eu, julgavam que a palavra deprimência era, tal como minusculinidade, uma palavra inventada por mim - desenganem-se! :p). Voltando ao assunto: seria de esperar que um livro sobre o suicídio não fosse, propriamente, uma alegria... Mas, de facto, chegar ao fim do dia, sentar-me na cama para relaxar e... ler a análise exaustiva de um caso de suicídio (ou de quem fica depois do suicídio)?! Não dá muita vontade...

Antes de mais... Tratando-se um caso real, custa-me compreender como o Nuno (que deve ser um nome fictício - espero!) e a família autorizaram a publicação deste livro. Envolve tantas coisas da inimidade das pessoas... E será que as partes em itálico foram mesmo escritas pelo Nuno? Nesse caso, deveria tratar-se de uma co-autoria... E a parte em que ele diz que seria fatal para a terapia contar as cenas do Nuno aos pais? Então, por outra, vai contá-las a milhares de pessoas?
Não sei, estas coisas fizeram-me uma certa comichão no nariz... Ainda por cima, tratando-se de um livro para o público em geral, e não técnico... Ah! Espera! Agora fui confirmar e afinal não é a descrição do caso real, mas sim "A partir de um caso clínico geral"... Até que ponto não estará esse caso clínico deturpado, não sei... por isso, é provável que tenha escrito estas coisas todas para nada... Olha, agora também não apago!!! - desculpem... :p

Agora, um comentário como deve ser: acho que pode ser um livro interessante para quem se interessar pela Psicologia, Psiquiatria ou mesmo para quem goste de reflectir, filosofar... Tem passagens interessantes... Nada de mais, porém. Para quem tenha curosidade ou interesse, ajuda a compreender algo do processo de psicoterapia (muito superficialmente, como é óbvio). Quando disse que se tratava de um livro sobre o suicídio, não é bem assim - apesar de a história andar à volta deste tema, trata-se de casos únicos, que não ajudam muito na compreensão deste fenómeno no geral. Na verdade, o livro acaba por abordar muito mais o processo de luto de quem fica. Um dos temas centrais é, também, como seria de esperar, tendo em conta o autor, a adolescência. Um bom retrato, que mostra como diferentes pessoas podem viver esta etapa de modo bem diferente. Questionei-me sobre o título até ao final, e foi bom encontrar a resposta na última página. Agora, não espreitem! :)

Gostaria de vos deixar três excertos, por diferentes razões:

1. Aquilo que de mais importante o meu curso me ensinou: cada comportamento (seja em que plano for) é multi-(in)determinado e está sempre envolvido no passado e na expectativa do futuro: À medida que vão sendo mais bem conhecidos os fundamentos biológicos da doença psiquiatra, mais importante se torna compreender a singularidade da evolução, determinante do modo de reagir específico de cada personalidade. (conhecer a evolução emocional das pessoas (…), descortinar o modo como vivenciaram os pontos críticos do desenvolvimento, compreender como o manejo das emoções se entrecruzou com a história de vida das pessoas significativas, encontradas ao longo do tempo).

2. De acordo com Daniel Sampaio, a (…) intimidade relacional, ingrediente essencial do processo terapêutico, só é possível ser conseguida com algumas pessoas. Serei uma dessas pessoas? Tratar com êxito exige grande disponibilidade do técnico (check!), maturidade conseguida na sua vida pessoal (aaaahhnnnnggg.... quem? eu?...), capacidade de criar proximidade com a pessoa em tratamento (acho que check! :]), compreensão dos seus próprios impasses de desenvolvimento (compreensão, ainda não, apenas consciência de que os tenho, e não são poucos! Isso chega?), noção das partes rígidas da personalidade (de quem? nossa ou do cliente?), possibilidade de se dar e estar atento ao sofrimento alheio (compassion, em inglês) (que remédio, não é? Estar atenta ao sofrimento é coisa que passo o dia a fazer - por isso é que chego a casa e não me apetece muito ler livros como este...). Bem... Parece que ainda tenho um caminhoso jeitoso a percorrer (que surpresa!)... hehe

3. Eu já tenho vontade de ir aos Açores... Podemos chamar-lhe um objectivo de vida, mesmo (eu sei, sou pouco ambiciosa... :p). Isto ainda aumenta a vontade: Um dia, quando fores (…) ao Faial, verás que a ilha de São Jorge parece muito perto, mas não é fácil lá chegar. Os barcos têm de aumentar a velocidade, grandes ondas surgem na passagem, baleias no alto mar, estranhas aves na linha do horizonte, por fim as fajãs e as escarpas da ilha. A tranquilidade dos Açores esconde a lava dos vulcões e os perigos do mar. Emocionante, não é?

2 comentários:

A mais nova disse...

gostei das citações, mas tão cedo n pego nesse livro! Jasus!!

A mais velha disse...

Bem, tens uma muito melhor opinião em adornospsicologicos.blogspot.com

;)

não é a minha, definitivamente!